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Dia da Consciência Negra e o Racismo Ambiental

Atualizado: 19 de mar. de 2021

Hoje, 20 de novembro, é o Dia da Consciência Negra. Esse data foi escolhida por ser a mesma da morte de Zumbi dos Palmares, líder negro quilombola que lutou pelo fim do sistema escravista. A ocasião ocorre em prol de uma reflexão acerca da discriminação racial, da representatividade e do papel do negro para a sociedade e cultura brasileiras. Mas o que a pauta racial tem a ver com o meio ambiente?

O Racismo Ambiental é um conceito criado por Benjamin Chavis, ativista de direitos negros, e faz referência a como pessoas de etnias desfavorecidas são mais expostas a tragédias naturais por não serem levadas em conta nas decisões políticas e sociais. O Racismo Ambiental perpetua até hoje, mas é fruto da colonização. O ato de expulsar povos de suas terras, separar suas tribos e tomar seus recursos naturais, degradando o meio e o deixando inutilizável para produção e consumo locais é um exemplo dessa injustiça ambiental.

Ainda não entendeu o que isso significa? É simples: o Racismo Ambiental é como a destruição da natureza em prol de processos econômicos e benefícios para brancos prejudica grupos minoritários, que acabam por não desfrutar nem do capitalismo e nem dos recursos naturais em questão.


A realidade brasileira

Imagem de NakNakNak por Pixabay

O conceito de Racismo Ambiental é extremamente aplicável à realidade brasileira devido à criação das periferias. A população negra foi varrida dos centros da cidade, passando a morar nas suas margens, nas encostas dos morros que ficavam à sua volta. As favelas, como são conhecidas essas habitações nos arredores das cidades, são em grande maioria locais precários e com sérios problemas ambientais. Os riscos de deslizamento de terra, as enchentes, a falta de saneamento básico e água potável, tudo isso diz respeito a políticas públicas ambientais que não foram tomadas porque nossos governos não se importam com essas vidas. No livro Quarto de Despejo, da escritora negra Carolina Maria de Jesus, sobre seu cotidiano na favela, é retratada um pouco da situação de descaso quanto a essas pessoas por viverem em um ambiente degradado: "Nós somos pobres, viemos para as margens do rio. As margens do rio são os lugares do lixo e dos marginais. Gente da favela é considerado marginal. Não mais se vê os corvos voando as margens do rio, perto dos lixos. Os homens desempregados substituíram os corvos (...) A Secretaria da Saúde veio passar um filme para os favelados verem como é que o caramujo transmite a doença anêmica. Para não usar as águas do rio. Que as larvas se desenvolvem na água... Até a água... que em vez de nos auxiliar, nos contamina. Nem o ar que respiramos, não é puro, porque jogam lixo aqui na favela." Para se informar mais, acesse o Mapa de conflitos envolvendo injustiça ambiental e saúde no Brasil, um projeto realizado pela Fiocruz que faz um mapeamento para apoiar ambientalistas, movimentos sociais e a luta de grupos atingidos por políticas públicas consideradas insustentáveis em seus territórios.

Um outro exemplo muito atual que retrata a injustiça ambiental é o caso do Amapá, que já está há mais de duas semanas sem energia, o que impossibilita a refrigeração de alimentos, os saques de dinheiro e a comunicação, além disso, também está faltando água potável para algumas casas. Vale constar que 74% da população amapaense é de negros e pardos e a energia está sendo priorizada e chegando primeiro para casas de zonas ricas e centrais, onde a população branca é dominante.

O perfil do Instagram @engajamundo produziu um podcast sobre esse assunto com duas entrevistadas especiais: Andréa Coutinho, jornalista preta, e Valdineia Sauré, ativista indígena. O episódio "Clima de uns e de outros" fala sobre como os impactos climáticos atingem muito mais os não favorecidos, e como aqueles que supostamente deveriam tomar as decisões socioambientais são o oposto disso. Confira aqui.


O racismo não marca e fere apenas indivíduos, ele também altera e inviabiliza o seu meio, usando a destruição da natureza para prejudicá-los. Sem justiça racial, não haverá justiça ambiental.


Para saber mais:

Livros: Racial Ecologies, de Leilani Nishime e Kim D. Hester Williams; Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus; e Como a Europa subdesenvolveu a África, de Walter Rodney

Instagram: @engajamundo

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